Um conto de Natal no Alemão
Menino que não tinha brinquedo ganha a liberdade de brincar na rua com os irmãos
Rio - Os brinquedos espalhados pela varanda da casa de Samuel Medeiros Moura, 7 anos, no Morro da Chatuba, Complexo do Alemão, mostravam ontem que a curtição dos presentes distribuídos na véspera por policiais varou a madrugada. Como O DIA contou ontem, na manhã de quarta-feira, o menino emocionou os agentes da Polícia Civil que distribuíram 10.500 brinquedos às crianças da comunidade na operação Papai Noel.
O garoto não tinha nenhum brinquedo em casa e, depois de entrar na fila dos presentes diversas vezes e usar até os dentes para carregar um carrinho, ele brincou até a meia-noite. No trabalho, o pai, o vigilante Diógenes Oliveira, 37, recebeu uma ligação a cobrar do filho para contar da felicidade de ganhar tantos brinquedos.
Samuel, que entrou várias vezes na fila para receber presentes de policiais civis, brincou até a meia-noite | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
“Só consegui separar R$ 50 para comprar os presentes dos meus três filhos, do meu enteado e da minha mulher. Ele passou de ano com conceito ‘Muito Bom’ e queria uma bicicleta de Natal, mas ganhou só um caminhãozinho de plástico. Samuel me ligou tão feliz, contando que os policiais deram muitos presentes. Eu disse ‘amém’ e agradeci”, emocionou-se Diógenes.
A família construiu uma vida humilde, atrás do muro alto de cimento, para proteger as crianças de balas perdidas. Era na frente da casa de Samuel que, aos sábados, bandidos armados se reuniam. A irmã caçula do garoto, Marlene, 3 anos, cresceu assustada com o som de bombas.
Ontem, todos brincavam na rua. Ao lado de Marlene e da outra irmã, Sara, 11, Samuel não desgrudou do carrinho e do samurai. “Quero que 2011 seja feliz para todo mundo!”, desejou o menino, que passou para o 1º ano do Ensino Fundamental e quer ser vigilante como o pai.
Mas Diógenes tem outros planos. “A Bíblia diz que nossos filhos vêm para fazer a diferença. Quero que ele seja bombeiro, sonho que não consegui realizar”, contou ele, que ficou encurralado horas no posto de saúde da comunidade, no 1º dia da ocupação. Nascida na Chatuba, a mãe de Samuel, Janaína, 42, agora pode usufruir da laje com vista para a Igreja da Penha: “Torci muito pela paz. Vamos poder comemorar a passagem do ano assistindo aos fogos da nossa laje. É nosso melhor presente”.
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