Felippe Carrero Teixeira

Carioca, Administrador, 31 anos, Casado com Deborah Furtado Teixeira, Assessor Especial do Dep. Federal e Secretário Municipal de Governo da Prefeitura do Rio de Janeiro Rodrigo Bethlem.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sérgio Cabral: ‘Podemos deixar um grande legado’

Rio - Prestes a entrar para a história como primeiro governador reeleito pelo povo para comandar o estado do Rio de Janeiro por dois mandatos consecutivos, Sérgio Cabral Filho (PMDB) faz um balanço de seus primeiros quatro anos no poder. Em entrevista exclusiva a O DIA, o governador fala sobre os planos para o futuro e anuncia a realização de novo concurso para a Polícia Militar em 2011. O objetivo é aumentar a tropa da corporação para garantir a instalação de novas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no estado. Cabral, que toma posse amanhã, também falou sobre as medidas que pretende adotar para acabar com a crise na Educação e nos Transportes. Quando o assunto foi política, o governador anunciou seu candidato na disputa pela presidência da Alerj e falou sobre seu provável futuro sucessor no Palácio Guanabara.

Qual foi a principal marca do seu primeiro mandato de governador?

Acima das UPPs, UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento), do Bilhete Único Intermunicipal, que foram grandes conquistas, eu diria que a principal marca deste governo foi a política de gestão que conseguimos implantar. Sem uma boa gestão nada seria possível. Foi isso que nos permitiu ter dinheiro em caixa, pagar os servidores no primeiro e no segundo dia útil do mês. Então, para mim, essa foi a base de todas as nossas conquistas: boa gestão.

Apesar das conquistas, alguns setores, como Educação, deixaram a desejar. Como mudar este quadro?

Isso é uma injustiça. A Tereza Porto (ex-secretária de Educação) fez um excelente trabalho. Mas Educação é uma área que dá resultados a médio e longo prazo. Quando assumimos, o magistério estava sem reajustes desde 1998. Nesses quatro anos procuramos resgatar o respeito ao professor com uma política salarial que, aos poucos, foi devolvendo algum poder aquisitivo ao magistério, mas que ainda está longe do ideal. Então houve já um progresso que vai se aprofundar ainda mais.

Então por que o senhor trocou a secretária de Educação depois da eleição?


Porque havia a necessidade agora de ter nesta área... A Tereza (Porto, ex-secretária) fez um trabalho muito bom de inclusão tecnológica. Com ela, nós saímos da Idade da Pedra. Se você conversar com qualquer professora, ela vai dizer que hoje tem laptop, laboratório de informática na escola. Mas agora precisamos continuar esse trabalho com um bom plano de metas. E o Wilson Risolia (novo secretário de Educação) tem mais o perfil para isso. Ele fez isso muito bem no Rio Previdência, que era uma instituição falida, e hoje é superavitária.

Como está a elaboração deste Plano de Metas?

Está indo bem. O Risolia está trabalhando no detalhamento do projeto, e nós esperamos lançá-lo no começo de janeiro, antes do início do período escolar.

Mas o que se pode adiantar sobre esse plano?


O que posso dizer é que ele prevê o pagamento de bonificação no salário para os profissionais de educação. Vai ser importante para resolver a carência que temos em algumas disciplinas, como física e química. Mas eu não posso detalhá-lo porque o Risolia ainda vai me apresentar. Ele está com quase 50 consultores trabalhando na Secretaria de Educação para finalizar esse projeto.

Se na Educação o senhor recebeu críticas, na Segurança Pública as UPPs são um sucesso. Já há previsão para novas ocupações?

Nós temos uma tropa pronta. E vamos continuar nossa política de pacificação. Em janeiro, mesmo, teremos novas ações. Meu compromisso é que, até 2014, nenhum território será controlado por milicianos ou traficantes. E vamos cumprir essa meta.

Em outubro, o senhor disse que Mangueira, Rocinha e São Carlos seriam as próximas comunidades pacificadas. Esses seriam os alvos das ações de janeiro?

Isso foi cogitado. Mas eu não sei, temos que avaliar tudo. Essa será uma decisão do Mariano (José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio).

O número de PMs hoje é insuficiente para atender a demanda de tantas UPPs. Haverá novo concurso em 2011?

Teremos sim. Antes mesmo da conquista do Alemão e das favelas da Penha já estávamos nos programando para isso. No concurso que fizemos este ano tivemos um número recorde de inscritos: mais de 70 mil candidatos. Em breve estaremos formando cerca de 7 mil soldados, e estamos ampliando a capacidade do Cfap (Centro de Aperfeiçoamento de Praças da PM) para preparar esses novos policiais. Além disso, o acordo que firmamos com o governo federal está nos permitindo não comprometer o calendário de pacificações.

A ação nos Complexos do Alemão e da Penha foi elogiada no Brasil todo. Isso o faz sonhar em disputar a Presidência em 2014?

Eu apoiei com enorme entusiasmo a eleição da primeira mulher presidente do Brasil. E numa aliança com o meu partido, tendo a vice-presidência com o meu amigo Michel Temer. Eu desejo, torço e trabalharei muito, no estado do Rio, para que dê certo este governo. Eu tenho certeza de que vai dar certo, e tenho dito isto. Tenho certeza de que, em 2014, nós estaremos reelegendo Dilma Rousseff presidente do Brasil.

Na condição de vice-presidente, talvez?

Não, o Michelzinho está um garoto, com mais saúde do que eu, está um menino. Está nos trinques. Vai ser ele o candidato a vice em 2014, claro. Amanhã posso ser presidente do Vasco da Gama. Eu gosto de gestão. O que mais faz minha cabeça é gestão. Só não vou ser deputado estadual outra vez.

E quanto ao governo do estado do Rio? O senhor já escolheu seu sucessor?

Nós vamos eleger Luiz Fernando Pezão governador do estado, porque não podemos perder essas conquistas obtidas nesses últimos quatro anos. Esse processo de recuperação do estado não pode ser interrompido. Eu estarei, se o Pezão me convidar, sentado na abertura das Olimpíadas de 2016, e no Museu da Imagem e do Som, tomando uma água de coco ou uma cervejinha, uma champanhezinha, vendo os eventos Jogos Olímpicos acontecerem na orla.

E na Alerj, quem terá seu apoio na briga pela presidência da casa?

O deputado Paulo Melo (PMDB) será o próximo presidente. Em política, tudo o que é natural ocorre melhor... Mas o deputado Domingos Brazão (PMDB) disse que não iria desistir da briga pelo cargo.

Eu acho que o Brazão deu uma contribuição muito importante ao meu governo nos últimos quatro anos. Ele é um deputado muito importante, um político de expressão, que vem galgando cada vez mais destaque na vida pública, inclusive traduzido em votos. Ele é uma pessoa que tem tudo para colaborar cada vez mais com o estado, com o governo, tem muitos méritos. Mas acho que é o momento de o Paulo ser o presidente. E eu, como peemedebista e governador, apoio o Paulo para presidente (da Alerj).

Sobre as mudanças na distribuição dos royalties. O senhor ficou satisfeito o desfecho do caso?

Aquilo (a proposta do novo modelo de distribuição dos royalties) era inadmissível. O que foi feito, com o aval do presidente Lula (que vetou a proposta), foi resgatar o acordo anterior. Já que mudou e entrou o regime de partilha, acaba a participação especial,que representa atualmente, 60% dos R$ 5 bilhões que receberemos em 2010. Ora, se acaba 60%, e ficam só 40%, não dá, essa conta não fecha. Então, se vai aumentar a produção do pré-sal lá na frente, vamos aumentar a alíquota para compensar essa perda.

Mas isso, por si só, já preenche a lacuna que ficaria com a mudança? Não ficará nenhum rombo para as contas do estado?

Preenche. Não fica rombo, de jeito nenhum. Nós estamos falando do pré-sal a ser licitado, que compensa exatamente essa lacuna que ocorrerá com o regime de partilha, o que vai ocorrer lá para 2020, 2021. Ou eu ficava calado e deixava para 2020, ou eu brigava, que foi o que eu fiz. Eu briguei para que o Rio não perdesse. E eu sempre disse isso. Eu estou brigando por uma coisa que nem diz respeito a mim.

Essa alíquota também compensa a perda da participação especial, com o regime de partilha?

Compensa. Nessa alíquota, de 15%, compensa pelo volume de barris a ser produzido. O Rio, pelo regime que acabou, com o pré-sal, teria uma explosão de dinheiro, mas você tem que ter uma visão de repartir com o governo federal, repartir com os estados e o estado não perder. Agora, junto com a garantia de que não haverá perda, o Rio será um canteiro de obras, como em todo o litoral brasileiro.

Esta semana, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, elogiou a preparação do Rio para os Jogos de 2016. Isso mostra que o Rio superou a desconfiança internacional?

Claro. Nosso cronograma está todo bem atualizado. Mas a nossa maior preocupação é deixar um legado para a população. Eu acho que nós podemos nos tornar realmente um caso até superior a Barcelona (Espanha), que é o grande exemplo. Em 1992, ali foi deixado um grande legado. Mesmo assim eu acho que podemos deixar um grande legado para a população do Rio de Janeiro e para a população brasileira. As cidades da Região Metropolitana também vão ter um legado que será deixado pelos Jogos. Para falar a verdade, eu acho que todo o estado do Rio pode se beneficiar com as Olimpíadas de 2016.

O que o faz pensar assim se nos Jogos Pan-Americanos de 2007 a história foi bem diferente?

É que no caso do Pan do Rio existia uma dissonância gigantesca entre os três níveis de poder. Hoje há uma consonância. Hoje você tem governo federal, governo estadual e prefeitura trabalhando juntos, todos conscientes do seu papel, da sua responsabilidade, do que cabe a cada um nesse jogo. E todos estão fazendo seu dever de casa.

E como estará a segurança no Rio em 2016?

Eu disse aos membros do COI que o Rio não estará seguro apenas durante os Jogos para que eles, os visitantes, tivessem um momento de segurança plena. Meu sonho, meu desejo, meu objetivo é ter, antes, durante e depois dos Jogos, um Rio de Janeiro seguro. E nós vamos chegar lá.

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